sexta-feira, 11 de maio de 2007

Uma Recordação. Um Símbolo.


Gostava de guardar, como recordação, um objecto pessoal do Ti' Zé Moleiro. Um objecto que ele tivesse usado. Um dia perguntei-lhe onde estava o relógio que se tinha avariado. "Está lá para casa". Não tive coragem do lho pedir, pois pareceu-me que outras pessoas o quisessem guardar como recordação. Era de corda, tinha-lhe custado quinhentos mil réis e usara-o mais de trinta anos. O novo, comprado há pouco, era muito parecido.

Naquele Sábado de manhã, quando recebemos a notícia do seu falecimento, procurei um pouco de isolamento, dei a volta à casa, para os lados do forno e, sobre as telhas, apanhei uma pequena chávena de barro. Seria o caneco de Leonardo Boff, 'sacramento do pai'. Mas não me tocou como símbolo, ainda anda no carro.

No dia 4 de Maio, estava a retirar o resto das coisas do alpendre por causa da visita do comprador, e, no lixo que ficou depois de ser retirado o seu banco de carpinteiro, encontrei o seu fio de prumo: Sujo, gasto, o cordel era apenas um coto... mas era uma boa recordação!

Em casa, nessa noite, limpei a madeira, retirei a terra e os restos de cimento do peão, poli-o e coloquei um cordão novo. Agora está junto à sua fotografia no móvel da sala.

Faz-me lembrar a sua verticalidade.
A sua vontade de justiça e de verdade.
A justeza das suas afirmações. A sua visão da vida.
É um bom símbolo para recordar o Ti' Zé Moleiro.

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